segunda-feira, 24 de março de 2008

209

Chega um ponto em que se para. Preciso parar para pensar. O meu eu, inconstante, falho, amargo desumano curte o ritmo infame da simples existência. Magoada com Deus, emburradinha, triste porque Ele não me deu o que eu queria, tola ao ponta de não ver que não tenho, não porque não fiz por merecer (que já uma boa justificativa, porque nunca faço mesmo) nem porque Deus não quis me dar, mas porque... eu não sei, mas Ele sabe. Motivo que desconheço, talvez não suportasse, não saberia lidar, jogaria tudo para o alto, morreria. Estou morrendo aos pouquinhos, inclusive agora mesmo, pois manufaturo Deus, e Ele deve ter sido feito com alguma peça faltando, porque não responde. O que é tudo isso? A sensação é de tudo ser gigante, inalcançável, e eu girando a broquinha do calcanhar do monstro, enquanto ele dança e pisa na cabeça dos que nem broquinha não tem. Caneta, papel, mouse, teclado, areia, sujeira, sensação de fome, tristeza, quantos mundos eu escolho viver? Às vezes só o meu meu meu eu eu eu, e olha que por mais que eu passe bastante tempo nesse último... como ele precisa de manutenção! Dou razão a inutilidade, saco de batata que rola da ladeira. 209, 209... Deus já sabia, ainda bem que Ele quis saber, ainda bem que Ele foi quem primeiro se manifestou, porque se toda humanidade dependesse de mim, eu estaria eternamente fixada em um cortante silêncio. Mas não, Ele olhou pra mim, pra bem dentro de mim e viu partes que até hoje desconheço, sorriu e otimista o bastante falou: "Vale a pena". E assim desceu, largou seu confortou e pagou com uma dura pena num madeiro indigno, por mim mim mim... inconstante, falha, errante, mas que por isso tem esperança de um dia ser menos menos menos... e com o "os" viver, dividir, ser. Sem palavras só sei sentir, e é um sentir que eu não manufaturei como poderia? por que esse não apresenta defeitos, muito pelo contrário, ele vem numa embalagem chamada graça, sem contra-indicações, mas com um efeito colateral chamado esperança.
Pense nisso Paula.

segunda-feira, 17 de março de 2008

mãos

Mãos duras, pesadas que parecem não ter descanso, sobre um bem manufaturado infinitamente inferior as mãos que sobre ele repousam. Mas que em uma visão grossa, desumana e economicamente propícia fazem da madeira verde brilhante algo de maior valor, de maior importância.
Parar um segundo, conseguir parar um segundo e olhar, olhar, mas é tão difícil enxergar, porque a questão da importância não nos é explicada e sim sentida na pele, e isso dói. Não te dizem você vale pouco, você sente e o resultado é simplesmente viver cada dia tentando se fazer menos esquecido, menos descartável.
Como é possível que nos deixamos levar de tal maneira que tudo de mais vazio, mais inútil cria vida, nos domina, sai andando e dita a dança? Quando coisas de fontes desconhecidas dentro do coração humano são pouco exploras, ou sequer levadas em consideração. Dessas fontes ( oh! e como são milhões de diferentes fonte), existe vida e vida em abundância, e o melhor; é impossível prever o resultado dessas fontes, ao contrário de especulações, vidas inteiras interessadas no 'outcome', daqui de dentro são criados momentos, ideais, pessoas inesquecíveis que nem o próprio sistema consegue disfarçar. E como que uns brotinhos na calçada esses se tornam suspiros de possibilidade. Pois se eles não acontecessem creio que deveríamos nos render, mas eles existiram, ainda existem e eu quero fazer parte da próxima onda.
Mas não cavamos fundo, é tão difícil, tudo vai contra, a luta é constante, eu nunca cheguei lá, mas imagino que deve valer a pena, aliás, a galinha toda (Talitinhaaa).
Essas mãos duras, pesadas tornaram-se ícones, exemplo de que ainda somos "gente", vamos nos tratar então, como tal, e assim desse jeito faço uma promessa que no dia em que alguém conseguir me mostrar as linhas pontilhadas voadoras que ficam em volta das pessoas e as tornam diferentes e de importância distinta eu... saio correndo com uma borracha gigante, porque sei que vou, (ou melhor) vamos estar perdendo momentos, idéias, quem verdadeiramente poderíamos ser, estaremos perdendo vida e fazendo jus a madeira cintilante valer mais do que a mão que sobre ela repousa e aí sim não seremos comprados, nos vendemos.

sábado, 8 de março de 2008

Reverência ao destino...

Falar é completamente fácil, quando se tem palavras em mente que expressem sua opinião.
Difícil é expressar por atitudes e gestos o que realmente queremos dizer, o quanto queremos dizer, antes que a pessoa se vá.
Fácil é julgar pessoas que estão sendo expostas pelas circunstâncias.
Difícil é encontrar e refletir sobre os seus erros, ou tentar fazer diferente algo que já fez muito errado.
Fácil é ser colega, fazer companhia a alguém, dizer o que ele deseja ouvir.
Difícil é ser amigo para todas as horas e dizer sempre a verdade quando for preciso. E com confiança no que diz.
Fácil é analisar a situação alheia e poder aconselhar sobre esta situação.
Difícil é vivenciar esta situação e saber o que fazer. Ou ter coragem pra fazer.
Fácil é demonstrar raiva e impaciência quando algo o deixa irritado.
Difícil é expressar o seu amor a alguém que realmente te conhece, te respeita e te entende. E é assim que perdemos pessoas especiais.
Fácil é mentir aos quatro ventos o que tentamos camuflar.
Difícil é mentir para o nosso coração.
Fácil é ver o que queremos enxergar.
Difícil é saber que nos iludimos com o que achávamos ter visto. Admitir que nos deixamos levar, mais uma vez, isso é difícil.
Fácil é dizer ” oi " ou ” como vai ? "
Difícil é dizer "adeus". Principalmente quando somos culpados pela partida de alguém de nossas vidas...
Fácil é abraçar, apertar as mãos, beijar de olhos fechados.
Difícil é sentir a energia que é transmitida. Aquela que toma conta do corpo como uma corrente elétrica quando tocamos a pessoa certa.
Fácil é querer ser amado.
Difícil é amar completamente só. Amar de verdade, sem ter medo de viver, sem ter medo do depois. Amar e se entregar. E aprender a dar valor somente a quem te ama.
Fácil é ouvir a música que toca.
Difícil é ouvir a sua consciência. Acenando o tempo todo, mostrando nossas escolhas erradas.
Fácil é ditar regras.
Difícil é seguí-las. Ter a noção exata de nossas próprias vidas, ao invés de ter noção das vidas dos outros.
Fácil é perguntar o que deseja saber.
Difícil é estar preparado para escutar esta resposta. Ou querer entender a resposta.
Fácil é chorar ou sorrir quando der vontade.
Difícil é sorrir com vontade de chorar ou chorar de rir, de alegria.
Fácil é dar um beijo.
Difícil é entregar a alma. Sinceramente, por inteiro.
Fácil é sair com várias pessoas ao longo da vida.
Difícil é entender que somente uma vai te aceitar como você é e te fazer feliz por inteiro.
Fácil é ocupar um lugar na caderneta telefônica.
Difícil é ocupar o coração de alguém. Saber que se é realmente amado.
Fácil é sonhar todas as noites.
Difícil é lutar por um sonho.
Eterno, é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade, que se petrifica, e nenhuma força jamais o resgata.

Carlos Drummond de Andrade